quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O rito necessário do encontro

“(…) No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração… É preciso ritos.
- O que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias! (…)”

(Antoine Saint-Exupéry, “O Pequeno Príncipe”)


Nunca parei pra pensar de onde vem certos costumes. A verdade é que quando eu parei pra reparar eles estavam ali: instalados, e hoje o meu maior hábito é esse: de tornar as coisas mais especiais em rito.
Lembro-me de quando eu era menor, sempre usava roupas novas nas melhores ocasiões - isso incluía desde a calcinha até os brincos. Tudo tinha que ser usado pela primeira vez ali, talvez para trazer sorte e carregar pra sempre lembranças boas. De segunda à sexta pela manhã quando calço o sapato, fico pensando nas coisas boas que irão fazer parte do meu dia - que é o que me faz arrastar o dia bem humorada. Com minha amiga tenho milhares de ritos, mas o principal é o de chegar depois do final de semana - no primeiro instante - e contar com detalhes tudo o que ocorreu, sem deixar passar nada. Tenho vários outros, mas escrevo por último (mas não menos importante) o meu atual costume que é o de todas as noite pedir para ele sonhar comigo - pode até parecer meio piegas, mas te garanto que é esse pequeno gesto que engrandece a situação e aumenta a admiração.
Pode até ser um leve sintoma de TOC, mas hoje eu sei que tem certas coisas que eu preciso de doses repetidas, sempre como se fosse da primeira vez.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Classificado

Vende-se URGENTEMENTE um poço de problemas. Não se sabe o certo da profundidade, por não querer esperar o tempo passar para descobrir. Enorme capacidade de gerar problemas pequenos, médios, grandes, com namorado, com mãe, escola, amigo-irmão, vestibular, futuro e em fazer redação. Se o poço for bem explorado, tem capacidade de gerar problemas por mais ou menos 55 anos. Estudo proposta de venda ou troca por qualquer coisa, com tanto que não dê dor de barriga. E se alguém achar que vai ser enganado, cedo inteiramente de graça ao primeiro interessado.
Caso a tratar DESESPERADAMENTE com a proprietária. E se demorar de atenter o telefone, por favor, insista na ligação, porque posso estar ocupada resolvendo algum problema novo.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Esperto pra cachorro!

Vai ficar pra sempre
O amendoado dos seus olhos 'vira-lata' na minha mente.
O balanço do rabo,
O desejo por minha comida
Minha alegria garantida.
Vai ficar o carinho
A presença leve, pequena...
O meu primeiro sobrinho.
Vão ficar vários corações vazios
Lembranças cheias
E olhos derramando lágrimas a fio.
No final, tudo vira saudade.
Eu sei que cachorros não foram feitos pra voar, mas voa...que anjos especiais como você foram feitos pra isso mesmo! ;)

Para Duque, com carinho.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sentimento bruto.

Vivem pensando que eu escrevo a mesma coisa sempre.
Mas eu não tenho vergonha do que sinto

Pois possuo tudo
E gosto dessa liberdade em que vivo
Qualquer tipo de palavra é o meu domínio sobre o mundo.

E isso tudo é o que me faz forte
Me faz inteira
Me faz verdadeira
Não tenho nenhuma vergonha em confessar o que acelera meu coração
O que aflige as certezas
O que fala mais alto que a razão - não tenho não!
Guardo no meu peito o que é claro:

Se amo, me entrego. Se gosto, declaro.

Ás vezes me julgam boba, tola

Com essa fraqueza de ser ou incapaz de me conter
O problema é meu - e o sentimento também.
Não haverá restrições na minha mente para o que se sente com a alma
Vira lei no fundo do peito:

Guardar só o que for bem feito.
Não ponho meus pés no chão (pois piso em nuvens)
Com toda essa paixão.

Mas nem todos que leem entendem
Dizem que é tudo falso
E que devo ser menos transparente.

Não vou expor sentimentos imundos
Sou movida sempre com paixão
Sou um coração batendo no mundo.


*Frases em itálico são de Clarice Lispector*